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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Antonio e Maria

Antonio e Maria
Era uma vez, há muito tempo, um casal feliz, Antonio e Maria, com dois filhos chamados João e Lúcia. Para entender a felicidade deles, é preciso retroceder àquele tempo.

Cada pessoa. Quando nascia, ganhava um saquinho de carinho. Sempre que uma pessoa punha a mão no saquinho podia tirar um Carinho Quente.

Os Carinhos Quentes faziam as pessoas sentirem-se quentes e aconchegantes,
cheias de carinho. As pessoas que não recebiam Carinho Quentes
expunham-se ao perigo de pegar uma doença nas costas que as fazia
murchar e morrer.

Era fácil receber Carinho Quentes. Sempre que alguém os queria, bastava
pedi-los. Colocando-se a mão na sacolinha surgia um Carinho do tamanho
da mão de uma criança. Ao vir à luz o Carinho se expandia e se
transformava num grande Carinho Quente que podia ser colocado no ombro,
na cabeça, no colo da pessoa. Então, misturava-se com a pele e a pessoa
se sentia toda bem.

As pessoas viviam pedindo Carinhos Quentes umas às outras e nunca havia
problemas para conseguí-los, pois eram dados de graça. Por isso todos
eram felizes e cheios de carinhos, na maior parte do tempo.

Uma dia uma bruxa má ficou brava, porque as pessoas, sendo felizes, não
compravam as poções e ungüentos que ela vendia. Por ser muito esperta, a
bruxa inventou um plano muito malvado. Certa manhã ela chegou perto de
Antonio enquanto Maria brincava com a filha e cochichou em seu ouvido:
"Olha Antonio, veja os carinho que Maria está dando à Lúcia. Se ela
continuar assim vai consumir todos os carinhos e não sobrará nenhum para
você.

Antonio ficou admirado e perguntou: "quer dizer então que não é sempre
que existe um Carinho Quente na sacola?" E a bruxa respondeu; "eles
podem se acabar e você não os ganhará mais". Dizendo isso a bruxa foi
embora, montada na vassoura, gargalhando muito

Antonio ficou preocupado e começou a reparar cada vez que Maria dava um
Carinho Quente para outra pessoa, pois temia perdê-los. Então começou a
se queixar a Maria, de quem gostava muito, e Antonio também parou de dar
carinhos aos outros, reservando-os somente para ela.

As crianças perceberam e passaram também a economizar carinhos, pois
entenderam que era errado dá-los. Todos ficaram cada vez mais
mesquinhos.

As pessoas do lugar começaram a sentir-se menos quentes e acarinhadas, e
algumas chegaram a morrer por falta de Carinhos Quentes. Cada vez mais
gente ia à bruxa para adquirir ungüentos e poções. Mas a bruxa não
queria realmente que as pessoas morressem, porque se isso ocorresse,
deixariam de comprar poções e ungüentos: inventou um novo plano. Todos
ganhavam um saquinho que era muito parecido com o saquinho de Carinhos,
porém era frio e continha Espinhos Frios. Os Espinhos Frios faziam as
pessoas sentirem-se frias e espetadas, mas evitava que murchassem.

Daí para frente, sempre que alguém dizia "eu quero um Carinho Quente",
aqueles que tinham medo de perder um suprimento, respondiam: "não posso
lhe dar um Carinho Quente, mas, se você quiser, posso dar-lhe um Espinho
Frio."

As situação ficou muito complicada, porque desde a vinda da bruxa, havia
cada vez menos Carinho Quentes para se achar e estes se tornaram
valiosíssimos. Isto fez com que as pessoas tentassem de tudo para
conseguí-los.

Antes da bruxa chegar as pessoas costumavam se reunir em grupos de três,
quatro, cinco sem se preocuparem com quem estavam dando carinho para
quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a se juntar aos
pares, e a reservarem todos os seus Carinhos Quentes exclusivamente para
o parceiro. Quando se esqueciam e davam um Carinho Quente para outra
pessoa, logo se sentiam culpadas. As pessoas que não conseguiam
encontrar parceiros generosos precisavam trabalhar muito para obter
dinheiro para comprá-los.

Outras pessoas se tornavam simpáticas e recebiam muitos Carinhos Quentes
sem ter de retribuí-los. Então, passavam a vendê-los aos que precisavam
deles para sobreviver. Outras pessoas, ainda, pegavam os Espinhos Frios,
que eram ilimitados e de graça, cobriam-nos com cobertura branquinha e
estufada, fazendo-os passar por Carinhos Quentes. Eram na verdade
carinhos falsos, de plástico, que causavam novas dificuldades. Por
exemplo, duas pessoas se juntavam e trocavam entre si, livremente, os
seus Carinhos Plásticos. Sentiam-se bem em alguns momentos, mas logo
depois, sentiam-se mal. Como pensavam que estavam trocando Carinhos
Quentes, ficavam confusas.

A situação portanto, ficou muito grave.

Não faz muito tempo uma mulher especial chegou ao lugar. Ela nunca tinha
ouvido falar na bruxa e não se preocupava que os Carinhos Quentes
acabassem. Ela os dava de graça, mesmo quando não eram pedidos. As
pessoas do lugar desaprovaram sua atitude, porque essa mulher dava às
crianças a idéia de que não deviam se preocupar com que os Carinhos
Quentes terminassem e a chamavam de Pessoa Especial.

As crianças gostavam muito da pessoa Especial porque se sentiam bem em
sua presença e passaram a dar Carinhos Quentes, sempre que tinham
vontade.

Os adultos ficaram muito preocupados e decidiram impor uma lei para
proteger as crianças do desperdício de seus Carinhos Quentes. A lei
dizia que era crime distribuir Carinhos Quentes sem licença. Muitas
crianças, porém, apesar da lei, continuavam a trocar Carinhos Quentes
sempre que tinham vontade ou que alguém os pedia. Como existiam muitas
crianças parecia que elas prosseguiriam seu caminho.

Ainda não sabemos dizer o que acontecerá. As forças da lei e da ordem
dos adultos forçarão as crianças a parar com sua imprudência?
Os adultos se juntarão à Pessoa Especial e às crianças e entenderão que sempre haverá Carinhos Quentes, tantos quantos forem necessários? Lembrar-se-ão dos dias em que os Carinhos Quentes eram inesgotáveis porque eram distribuídos livremente?
Em qual dos lados você está?
O que você pensa disso?


Colaboração CARLOS EDUARDO RIBAS - NITERÓI

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